Glossrio de cor CECOR
Existe uma Teoria das Cores ou vários sistemas de cores?



Fig. 1



Fig. 2



Fig. 3
Uma questão que sempre atraiu e ainda atrai a atenção de muitos filósofos é se existe mesmo uma Teoria da Cor associada à historia de alguns sistemas de cores que o homem vem organizando ao logo dos últimos séculos. Segundo o Diccionario Akal del Color, existem várias definições para a Teoria da Cor.
Escolhemos uma que diz:
“Conjunto de princípios e conceitos que derivam de uma investigação de caráter científico ou técnico a cerca da cor, desde um enfoque físico, filosófico, artístico, químico, metafísico, tecnológico ou iconolingüístico”.
É esse conjunto de princípios e conceitos que podemos chamar de Teoria da Cor ou mesmo de uma Moderna Teoria das Cores, que permitiu no século passado o desenvolvimento da fotografia colorida, da TV e do monitor de computador em cores, da impressão gráfica de alta qualidade e, em especial, da tecnologia de fabricação dos pigmentos sintéticos e de melhores tintas automotivas, imobiliárias e artísticas. É o que ocorre com muitos dos atuais Sistemas de Cores, como o Cecor (fig. 1), desenvolvido inteiramente no Brasil.
Não se pode afirmar que existe uma “teoria geral da cor” perfeitamente formulada, em razão da complexidade daquilo que é a cor. Entretanto, é possível enunciar os principais conceitos dos seus três mais importantes aspectos, referentes à luz (e suas propriedades), aos corpos (objetos transmissores ou refletores) e à visão (percepção sensorial/cerebral). Podemos falar também sobre a organização, reprodução e misturas de cores, dentro de certa previsibilidade.

Questões sobre a Luz

– A luz e suas características constituem um fenômeno universal de caráter eletromagnético, conhecido como espectro cromático, cujas ondas se propagam pelo espaço à velocidade constante de 300.000 km (no vácuo) por segundo.
- Há certo tipo de qualidade ideal de luz para a visão correta das cores dos corpos e substâncias, conhecida como “luz branca”, com temperatura de cor entre 5.500 a 6.500K (graus Kelvins) que corresponde à luz solar indireta.
- A luz visível está situada numa faixa de comprimentos de onda entre 400 e 700 nm (nanometros) para todas as cores, em comprimentos de onda específicos que impressionam nossos olhos e permitem a visão cromática diferenciada.
- A existência de faixas com comprimentos de ondas curtas, médias e longas, cores chamadas primárias da síntese aditiva (cores RGB).

Questões sobre os corpos

- Os corpos e as substâncias não têm qualquer cor em si mesmos. Eles apenas absorvem determinados comprimentos de onda com maior ou menor intensidade, segundo suas propriedades fisicoquímicas. O que eles refletem em termos de comprimentos de ondas é que produz a sensação colorida.
- A divisão das características objetivas das cores emmatiz, luminosidade e saturação (MLS) permite definir a percepção cromática daquilo que é designado como sendo uma cor a, b ou c de um determinado corpo, substância ou amostra de cor.

Questões sobre a visão

- A percepção das cores é um processo psicofisiológico, que termina no cérebro como uma sensação visiva causada por um conjunto inter-relacionado de fenômenos externos e internos, próprios do observador.
- O olho possui na retina fotorreceptores (cones), especializados em detectar as faixas de oscilações eletromagnéticas correspondentes às ondas longas do vermelho (R – 700nm), às ondas médias do verde (G – 520nm) e às ondas curtas do azul-violeta (B – 400nm). Também possui bastonetes especializados na visão em ambientes de penumbra.
- Em tese, a cor só “existe” porque pode ser percebida e descrita pelo observador através da linguagem, embora dependente sempre da interação entre a luz e os corpos transmissores-refletores.
- A visão das cores é sujeita a alterações devido ao fenômeno de persistência da imagem na retina, que varia segundo determinadas condições de iluminação, tempo de observação e movimento, denominado contraste sucessivo.

Psicodinâmica da Cor

- A cor produz diversas mudanças corpóreas, como o aumento involuntário da respiração e do fluxo sanguíneo; entre outras mais sutis, influencia inclusive o estado de espírito, de humor e de saúde.
- A cor produz também mudanças em nosso comportamento e atitudes, podendo ser usada para diversas finalidades relacionadas à psicodinâmica comportamental de indivíduos ou grupo deles.
- A divisão das características subjetivas da cor em peso, temperatura, simultaneidade, dimensão, complementaridade e sabor permitem um melhor emprego destes atributos no sentido de se obter efeitos cromáticos que melhor impressionem os sentidos e o comportamento do homem.
- A cor, no sentido de linguagem, pode ser associada a diversos simbolismos e códigos para uso em processos de expressão artística e de comunicação visual, num processo de caráter universal.

A estrutura física tridimensional

- São três tipos os contrastes que definem uma cor qualquer em termos de um sólido ou espaço de cor:
1) Matiz: aquilo que difere uma cor de outra, como azul e vermelho, cada qual com diferentes comprimentos de onda (energia eletromagnética), quer como cor-luz (transmitida pela TV), ou como cor-pigmento (refletida dos corpos e substâncias); 
2) Luminosidade: é o componente claro ou escuro da cor. Em slides, é "quanto" passa de luz pelo diapositivo; nas tintas imobiliárias é "quanto" uma cor tem de pigmento branco, preto ou da sua cor complementar; nas tintas transparentes, é "quanto" elas deixam refletir a cor do substrato. Há também a luminosidade específica de cada cor, como é mostrado no gráfico “Retângulo de Luminosidade” (Fig. 2).
3) Saturação: é o potencial da cor ou “quanto” um matiz é mais intenso e puro (saturado) ou mais transparente (dessaturado). Com a Luminosidade e a Saturação se obtêm centenas de nuanças (pontos de cor) de um único matiz.

A estrutura psicológica da cor

- São cinco os tipos de contrastes psicodinâmicos das cores que produzem no homem diversos tipos de sensações de forma inconsciente, tais como:
Temperatura: sensação de que certas cores são quentes, frias ou mornas;
Simultaneidade ou contraste sucessivo: sensação de modificação das cores quando vistas em conjunto, dentro de certo arranjo espacial, especialmente em se tratando de tonalidades complementares, em decorrência de que a visão gera na retina o contraste sucessivo da cor complementar;
Dimensão: sensação de que a cor tem efeito aproximante, distanciante ou estático;
Peso e tamanho: sensação de que as cores mais escuras são menores e mais pesadas e as mais claras são maiores e mais leves;
Sabor: sensação de que as cores quentes estimulam o apetite: são mais claras, doces e mais “comestíveis”; e de que as cores frias desestimulam a apetência: são mais escuras e amargas, sendo porém mais aceitas como as cores “bebíveis” dos vinhos tintos, do café e dos licores.
Os oito contrastes estruturam a psicodinâmica da cor e provocam sensações diversas. A cor influencia o homem por se tratar de: a) energia radiante da luz (fótons) que penetra no corpo, provocando alterações no sistema respiratório e sangüíneo; b) evocações pessoais de cada indivíduo em relação ao seu inconsciente e as suas vivências culturais. Ambos fenômenos provocam diversas reações em cascata, conhecidas como sinestesia.

Reprodução da Cor

Este item começa pelos fenômenos das sínteses cromáticas, que os separam e os reúnem em certas circunstâncias, como os fenômenos da física (luz) e os fenômenos da química (pigmentos), assim também como os fenômenos mistos. As sínteses são classificadas em três diferentes tipos:
1 - Síntese aditiva (cor-luz)
- Cores obtidas por mistura de duas primárias são mais vivas e brilhantes e criam uma cor secundária;
- A mistura de três cores primárias de intensidades medianas formam um cinza médio; a mistura em intensidade máxima cria o branco;
- Qualquer mistura de duas ou mais cores - intensas ou não - nunca cria uma cor primária; se houver a participação de uma primária na mistura, elas serão cores secundárias, terciárias, quaternárias etc.
2 - Síntese subtrativa (cor-pigmento)
- Qualquer mistura de duas ou mais cores nunca cria uma primária;
- A mistura de três cores primárias de intensidade mediana cria um cinza médio; da mesma forma, a mistura de duas cores complementares de intensidade média (onde sempre haverá as três cores primárias), formará também um cinza médio.
- A mistura em intensidade máxima das três primárias cria o preto;
- A formação de um cinza médio por um par de cores complementares é o princípio que define corretamente a paridade das cores complementares.
- As cores secundárias, terciárias, quaternárias e as demais dependem sempre de uma cor primária em sua composição.
- A mistura das cores complementares, como amarelo + anil em intensidade média forma um cinza médio, pois amarelo é primária e anil é formada por duas outras duas primárias: ciano e magenta. Em intensidade máxima, a mescla forma a cor preta.
3 - A síntese partitiva (cor-luz e cor-pigmento):
- A repartição (ou partição) e a distribuição equânime de pequenas áreas de duas cores complementares de média intensidade e com um porcentual de fundo neutro será vista como uma cor cinza.
- É possível obter-se a visão de cores e imagens que não existem num esquema de cor-luz ou cor-pigmento, dependendo apenas de um arranjo gráfico conveniente. onde uma síntese interfere na visão da outra (fig. 3).
- Os artistas impressionistas e pós-impressionistas produziram efeitos desta síntese, como se faz hoje no design e artes gráficas; a retícula do processo gráfico, como nos outdoors, é uma forma de síntese partitiva.

Grupo de misturas de cores

1) Ondas longas e médias de luzes, na síntese aditiva, causam a percepção do amarelo;
2) Ondas de luzes longas e curtas causam a percepção do púrpura (magenta);
3) Ondas de luzes médias e curtas causam a percepção do azul-verde (ciano);
4) Mesclas de componentes equilibrados causam a sensação acromática (branco ou cinza).
Um importante postulado está na “Lei das Misturas” de Grassmann, que determina:
1) Em qualquer regra de misturas de cores, é determinante a aparência da cor, não a sua origem física.
2) Toda percepção cromática emana de três apropriadas excitações luminosas.
3) Se em qualquer mistura de cores for alterada a participação de um componente, toda a mistura muda de aspecto.

Por Nelson Bavaresco – designer gráfico e pesquisador. Ministra treinamento corporativo sobre Teoria e História das Cores • Linguagem e Significado da Cores • Harmonia e Mistura de Cores. É autor do Sistema de Cores Cecor.

 
 
Texto publicado originalmente em:
http://www.mundocor.com.br/cores/teoria_sistemas.asp


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