Glossrio de cor CECOR
06/06/2013
Cores e ritmos



Figura 1
Já pensou quais são as cores do samba, do baião, do chorinho ou de um xaxado? Embora possa não parecer, música e cor estão intimamente relacionadas. Tanto é verdade, que muitos músicos compuseram suas peças inspirando-se nas cores dos pintores ou da natureza para expressarem, mais ricamente, seus sentimentos.
Muitos foram os pintores que encontraram inspiração para suas telas nos sons musicais ou nos sons da própria natureza. O barulho de um riacho, do mar, da chuva caindo foram, com muita frequência, traduzidos musicalmente por muitos compositores. Por sua vez, estas peças deram suporte para a inspiração de muitos pintores.
Segundo o maestro Eulalio Ferrer, em seu livro “Los lenguajes del color” o pintor expressionista Edvard Munch, autor do célebre quadro “O grito”, teve como fonte de inspiração a observação de um pôr de sol, que sentiu como um grande grito da natureza. E foi isto que ele pintou, como se estivesse ouvindo tal grito.
O ser humano tem relacionado as cores com a música desde tempos antiquíssimos, assim como a música com as cores. Estes dois fenômenos são como uma via de mão dupla, correndo nos dois sentidos. Tanto é que os antigos gregos ajustaram os valores cromáticos das cores com os valores tonais da música.
Qualquer que seja a música que se ouve, as cores estão abstratamente inseridas nos tons melódicos ou harmônicos de muitas composições musicais. Dessa forma, termos como brilho, tom, matiz, ritmo e harmonia são usados de maneira comum na pintura e na música.
As mais célebres peças musicais dos grandes compositores, vez ou outra se inspiravam nas cores dos pintores ou no colorido da natureza. Um caso clássico é do compositor e pianista soviético Alexander Scriabin. Segundo observação de Sergio Balicco em “Colore” à página 128:

”No que concerne ao relacionamento entre música e cor, cabe observar que não se trata de colorir a música ou de musicar a cor, mas de buscar a sua inter-relação, de modo que ambas possam elevar-se acima do mundo físico".


O argumento interessa a diversos artistas e músicos do início do século. Scriabin (1872-1915), compositor e pianista soviético, constrói um paralelismo entre música e cor, no qual a cada tipo de som corresponde uma modulação cromática segundo o cânon teórico da figura 1.
Antes de Scriabin, e diferentemente, os investigadores franceses Etienne Souriau e Henri Lagresille, mediante cálculos físicos dos comprimentos de onda da luz na faixa da cor, determinaram equivalências entre as cores e as notas musicais, criando um referencial para músicos e pintores. Assim, por exemplo, a nota Dó equivale ao verde; o Ré ao azul, o Mi ao escarlate, o Fá ao rosado. O Sol ao roxo, o Lá ao laranja o Si ao amarelo.
Muitos compositores encontraram nomes de cores para expressarem seus sentimentos. Um deles foi o austríaco Johann Strauss com a peça “O Danúbio azul”, famosa valsa que recria musicalmente a beleza desse rio; o americano George Gershwin com sua “Rapsódia azul”; o brasileiro Ari Barroso, com o belo exemplo “Aquarela do Brasil”, música que inspirou Walt Disney na criação do desenho animado do mesmo nome.
Produzido nos EUA na década de 1950, o desenho de longa metragem mostra a visita do Pato Donald ao Brasil, assim como seu primeiro encontro com o Zé Carioca. Além da enorme qualidade técnica da animação, com desenhos feitos manualmente, quadro a quadro, e do exuberante colorido tropical, destaca-se a maravilhosa trilha sonora, com destaque para as músicas "Aquarela do Brasil", de Ari Barroso, e Tico Tico no Fubá, de Zequinha de Abreu.
Agora é só você, músico, arranjador, animador, designer ou pintor, criar suas obras tendo a cor ou a música, ou mesmo os sons e coloridos da natureza como fonte de inspiração.

Nelson Bavaresco - designer gráfico e pesquisador.Ministra cursos e treinamentos sobre Teoria e História das Cores – Linguagem e Significado da Cores - Harmonia e Mistura de Cores. É autor do Sistema de Cores Cecor.
Texto publicado originalmente em:
http://www.mundocor.com.br/cores/cores_ritmos.asp


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